O que meses falhando em meus hábitos me ensinaram
Criar uma rotina de hábitos onde mais se erra do que se acerta é o melhor caminho para os seus objetivos, apesar de parecer controverso.
A controvérsia se dá em seguir um caminho de erros em vez de um reto, prático e rápido tutorial de acertos. No mundo acelerado em que vivemos, errar é sinônimo de tempo perdido, e é esse pensamento que devemos desvincular de nossas mentes se procuramos ter um aprendizado autêntico, pessoal e valioso.
Esta é uma documentação do meu processo de criação de hábitos que auxiliam no meu desenvolvimento pessoal, focando principalmente em como voltei a ter uma rotina diária de leitura.
Falando sobre hábitos
Você com certeza já se deparou pensando na vida, em todos os seus objetivos e metas que você sempre sonhou mas percebe que não está tomando um rumo certo para conquistar isso. O meu objetivo era voltar a ler, e isso aconteceu comigo.
Quando criança, sempre fui viciado em livros. Lia As Crônicas de Nárnia, dedicava finais de semana lendo Harry Potter e me encantava com Senhor dos Anéis (até hoje, os meus preferidos). Conseguia ler por horas sem cansar e colecionava pilhas de livros.
Aos poucos esse hábito foi se perdendo, já não conseguia mais ler por horas ou tampouco achava tempo para isso. Comecei a ignorar e a ter outras prioridades e a leitura ficou de lado.
O que não ficou de lado foi o desejo de voltar a ler, coisa que me incomodou por anos, pois era algo que eu sabia que contribuía muito com o meu desenvolvimento, e eu duvido que alguém discorde dos poderes de uma boa leitura.
Nos últimos meses, venho tentando vários planos e fórmulas para voltar para os livros, e a seguir virão algumas dificuldades e soluções que encontrei:
O problema de um manual perfeito
Ler sempre foi bem visto por mim e de grande importância na minha vida, logo, elevei demais o patamar desse hábito ao ponto de criar a ilusão na minha mente de que precisaria de um manual perfeito para executar esse plano.
E aí começaram as minhas tentativas. Em uma quinta-feira de setembro de 2021 fiz um arquivo no Notion com as minhas regras de leitura. Defini o que seria uma leitura adequada, um tempo adequado, um prazo, uma meta e um objetivo. Gastei dias com essa atividade, tanto que ela só foi ficar pronta depois de dois dias. No sábado, sentei para ler com o meu manual em mente:
- precisava ler 1 hora
- precisava ser uma leitura ininterrupta
- precisava dedicar 15 minutos finais para anotar as melhores partes da leitura
- havia de marcar a qualidade da leitura (igual aplicativos que gerenciam o sono), como me senti e etc.
Tudo isso se somava aos fatores que eu não percebi:
- eu tinha tido uma péssima noite de sono
- havia selecionado um livro muito difícil (porque na minha cabeça eu precisava iniciar GRANDE, se não nem valeria a pena)
- criei muita expectativa nesse primeiro momento
O resultado? Um fracasso.
Esse é o ponto de buscar um tutorial perfeito: Ele não existe. Toda essa minha ideia de arquitetar demais, de tentar fazer um plano exagerado do essencial pode-se comparar com o fenômeno de Overengineering.
Uma espécie de Overengineering na leitura
Overengineering é fornecer uma solução para um problema de uma maneira elaborada ou complicada, onde uma solução mais simples pode ser demonstrada com a mesma eficiência e eficácia do projeto original.
Fica muito claro que o usuário da imagem apenas estava interessado em uma rampa e uma bicicleta. Eu era esse usuário e o que eu realmente precisava era sentar na cadeira e ler um livro. Era apenas isso e nada mais. Não havia a necessidade de todo o exagero de métodos e passos que criei para uma leitura perfeita.
Hábitos Atômicos de James Clear
Eu estava no cenário em que meus planos não estavam dando certo e eu precisava de algo prático para ler. Foi aí que vendo um vídeo recomendado, eu descobri que o mais importante é iniciar com o que você quer fazer e ir corrigindo a trajetória durante o processo. Mais importante que começar do jeito certo é começar.
O vídeo que citei se chama: How to become 37.78 times better at anything | Atomic Habits summary (by James Clear) e nada mais é do que um resumo do fantástico livro Hábitos Atômicos de James Clear e dele posso separar os principais pontos que mais me ajudaram:
- se tornar um leitor, não ler livros
- entender que o progresso não é linear
- definir sistemas e não objetivos
- tornar o hábito satisfatório
Se tornar um leitor, não ler livros
Você consegue perceber a diferença entre tornar-se um leitor com ler livros? Muitas pessoas focam na parte dos resultados e não na parte de buscar ser a pessoa que elas querem se tornar.
Eu não quero ser uma pessoa que come frutas e faz exercícios, eu quero ser uma pessoa saudável, eu não quero tocar guitarra, eu quero ser um músico. Logo, segundo o tema do artigo, eu não quero ler livros, eu quero ser um leitor. Mas isso não estava claro para mim.
Entender que o progresso não é linear
Isso já pode estar meio clichê mas é importante ressaltar porque os momentos de decepção sempre virão, é normal. Precisei entender que metade do sucesso consistia em apenas pegar o livro e começar, o resto era consequência. Ter dias ruins ou achar-se estagnado faz parte, é natural e muito comum em pessoas que tentam ter resultados verdadeiros e genuínos.
Acostume-se com isso, no limite do saudável.
Definir sistemas e não objetivos
Objetivos são limitantes e sistemas abrem a mente. O seu objetivo é ler um livro de 900 páginas em um mês, mas no final você acabou não conseguindo por faltar apenas 100 páginas. A mentalidade de focar em objetivos pode fazer com que você ignore todo o progresso que você fez em 800 páginas por conta de apenas 100. Foque em definir sistemas, eles são mais duradouros e focam em um solução maior.
Um sistema é algo para toda a vida ou enquanto durar o planejamento do seu hábito, um objetivo, mesmo se der certo, pode acabar com a última página de um livro. E aí? O que você faz? Foque em criar um sistema.
Tornar o hábito satisfatório
Esse é de todos o mais leve e interessante, pois conto como consegui juntar o temível hábito de acordar cedo com leitura e um cafézinho.
Havia tempos que eu queria ler mais, aprender a apreciar e a fazer um bom café e a acordar mais cedo. Oras, bastou eu juntar tudo isso para dar super certo.
Passei a acordar todo dia 5:30 da manhã para fazer o meu café, aprendi novas técnicas de como fazer e tornei esse um momento divertido do meu dia, descobri que adoro testar as combinações dos vários tipos de café. Por final, juntei tudo isso com um bom livro pela manhã e acabei por matar 3 hábitos em um só.
Concluindo
Com esse artigo tentei trazer a minha experiência de como errar pode trazer benefícios, sendo os erros saudáveis e não perigosos, e como isso agrega na formação de um aprendizado mais pessoal, mas genuíno e mais valoroso.
Gostaria de deixar claro que nada aqui é regra, nada aqui está cravado em pedra. Sinta-se livre para pegar trechos e adaptar para si, ou também sinta-se livre para pegar e ignorar tudo o que eu falei, se não der certo para você ler às 5:30 da manhã, ignore o que eu disse e faça exatamente o contrário, creio que vá te ajudar.
Também esse é um início de outro hábito que quero começar a ter, que é escrever mais. Já havia feito um post sem correção e sem revisão apenas para quebrar a barreira da vergonha, mas esse é um dos primeiros de uma série de outros que tenho em mente. Espero que sirva como material para alguém e que alguma pessoa possa se inspirar nisso.
É isso e até a próxima 😁
Referências citadas:
Livro Hábitos atômicos: https://www.google.com/aclk?sa=l&ai=DChcSEwiIgti5gIP3AhXPQUgAHe75AV0YABABGgJjZQ&sig=AOD64_2N5L_UcR7eXcF6NzSHXztptc3o0w&ctype=5&q=&ved=0ahUKEwjIkb-5gIP3AhXer5UCHeVmB6UQww8Ivwg&adurl=
How to become 37.78 times better at anything | Atomic Habits summary (by James Clear):